quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BOLETIM 03 - DEZEMBRO 2010

ESPECIAL ELEIÇÕES DO CAMMA
Votar criticamente na Chapa 2 e lutar por uma pauta combativa e classista!

            O Movimento Hora de Lutar foi fundado há menos de 6 meses atrás, após a experiência de alguns estudantes com as eleições do DCE, na qual encaramos que nenhum dos setores hoje existentes na universidade foi capaz de pôr em foco o que consideramos central para o movimento estudantil: a aliança com os trabalhadores e trabalhadoras da universidade e da sociedade em geral. Desde lá vimos atuando nas reuniões do CAMMA e nas atividades do IFCS (assim como na Física, lá no CT), tendo recentemente participado do lançamento do Núcleo do IFCS de Apoio às Ocupações Urbanas, uma importante iniciativa que tem por objetivo promover a aliança entre estudantes e os setores mais explorados da classe trabalhadora brasileira.
            Devido ao nosso tamanho ainda reduzido, optamos por não montar uma chapa própria nessas eleições do CA. Porém, não nos furtamos de debater com os estudantes as nossas propostas, que levamos para as convenções das chapas 1 e 2. Infelizmente, nenhuma das duas abraçou o programa que achamos necessário ser defendido, assim, decidimos não integrar nenhuma delas. A seguir faremos uma breve análise de cada uma das chapas inscritas e divulgaremos os pontos centrais que achamos necessários serem defendidos pelo CA no próximo ano, pontos esses que nos comprometemos a levar à frente a partir da atuação nos GTs (grupos de Trabalho) e reuniões gerais do CAMMA.
            Se você compartilhar nossa visão de movimento estudantil e concordar com nossas propostas, fale com um de nossos membros ou acesse nossa lista de discussão online: horadelutar@yahoo.com.br.

A “Opção” de despolitizar
            Antes de falarmos das chapas 1 e 2, é necessário fazermos uma dura crítica a Chapa 3, “Opção”, criada meio que em cima da hora e que acabou por não convocar nenhuma reunião para discutir programa e etc.
            Logo no primeiro parágrafo, essa chapa defende uma concepção de movimento estudantil que achamos necessária ser combatida com todas as forças, ou seja, de que o movimento deve se fechar dentro dos muros da universidade e evitar debater “conjunturas político-sociais muito amplas”. Com uma universidade que recebe milhões em verbas todo ano, e com um Governo que destina apenas 5,1% do PIB para a educação, tendo cortado R$1,28 bilhão desse orçamento em junho, enquanto entregou de bandeja cerca de R$363 bilhões de nossos impostos quando da crise econômica, para salvar banqueiros e empresários da lama em que eles mesmos se enfiaram, é muita ingenuidade (ou descompromisso) encarar que é possível conquistar melhorias para a educação sem um movimento estudantil politizado, que debate a realidade nacional e internacional na qual vivemos.
            Apenas através de muita discussão e formulação seremos capazes de armar os estudantes para o necessário confronto com reitorias e governos, por uma educação universal, realmente gratuita e de qualidade. Achamos que a Chapa 3 assume um postura extremamente perigosa ao beber na fonte da desmobilização pela qual passa o movimento estudantil e levantar como proposta central aprofundar sua atual despolitização (o que sem dúvida encontrará muitos adeptos entre aqueles estudantes preocupados apenas com o próprio umbigo). Por isso, rechaçamos o projeto de tal chapa, que apesar de levantar algumas demandas justas, como mais incentivos à pesquisa e não dissociação do bacharelado e da licenciatura, aponta para uma perspectiva perigosamente despolitizada, que só poderá levar à derrota dos estudantes, justamente em um momento em que estes precisam se opor à precarização da educação e a superexploração da mão de obra jovem.

Chapa 2, um convite vazio à unidade e diversos outros problemas
            Ao participarmos da convenção da Chapa 2, “A História Não Pára”, pudemos perceber que esta conta com gente nova e disposta a lutar por propostas avançadas. Ao levantarmos a questão da necessidade de aliança entre estudantes e trabalhadores terceirizados da universidade (que possuem condições extremamente precárias de trabalho, recebem salários irrisórios e correm risco de demissão imediata caso se levantem e questionem tal situação), recebemos o apoio de diversos companheiros. Apesar disso, a palavra “trabalhador” não aparece sequer uma vez em todo o panfleto (bem grandinho, aliás) dessa chapa. Para nós, qualquer projeto transformador que o movimento estudantil levante e que não esteja aliado aos interesses e necessidades da classe trabalhadora, estará fadado ao fracasso. E isso é bem simples de perceber: a maioria de nós ou já trabalha para poder sustentar seus estudos, ou terá que correr atrás de um emprego tão logo se forme. Assim, já enfrentamos ou logo, logo, enfrentaremos os problemas comuns a todos os trabalhadores de nossa sociedade: os baixos salários, as precárias condições de trabalho, a falta de direitos e, acima de tudo, a exploração pelos patrões, que roubam o fruto de nosso sangue e suor para desfrutar de uma vida luxuosa, enquanto a maioria dos trabalhadores, não por acaso negros, sofrem diariamente com a opressão, a violência e a falta de recursos. Assim, deixamos aqui a estes companheiros um questionamento: será que a necessária aliança operário-estudantil não entrou no panfleto e passagens de turma da chapa por um “ato falho” ou por que é um discurso mais difícil de ser apresentado (e aceito) ao conjunto de estudantes?
            Porém, os erros da Chapa 2 não param por aí. Logo de cara, os companheiros lançaram um chamado à unidade para as eleições. Acreditamos ser mais do que necessária a unidade entre todos os setores combativos do movimento estudantil, porém essa unidade deve ser dar é nas lutas do dia a dia, não na hora de clarificar as diferenças programáticas e disputar a consciência do conjunto de estudantes. Achamos necessários que grupos com concepções diferentes tenham total independência política, que nunca deixem de falar o que deve ser dito para compensarem sua pouca visibilidade entrando em alianças oportunistas com grupos maiores. E o oportunismo por trás desse chamado fica claro quando, no panfleto lançado pelos companheiros, não é apresentada nenhuma base programática para a formação de uma chapa unificada! Mais do que isso... qual a necessidade de criar um “blocão” nas eleições, quando a distribuição de cargos é baseada na proporcionalidade e quando o CA funciona por “voz, voto e ação”, tendo todos os mesmos direitos e peso de voto, independente de serem Coordenadores ou não?
            Por último, outro grave erro cometido pela Chapa 2 é a defesa de ruptura com a UNE, entidade de massas dos estudantes brasileiros. Concordamos que esta entidade sofre graves problemas, estando sua direção majoritária a serviço do governo e das reitorias, sendo sua estrutura burocratizada e seus fóruns pouco frequentes. Porém, achamos uma grave erro igualar a entidade e os milhares estudantes que dela fazem parta à sua direção majoritária e um erro ainda maior rachar o movimento estudantil criando outras entidades, como a ANEL. Acreditamos que o setor combativo do movimento estudantil deve enfrentar a direção majoritária da UNE (a UJS, ligada ao PCdoB), e fazer a devida disputa pela consciência dos estudantes atualmente sob sua influência, e não, como os companheiros da Chapa 2 defendem, virar as costas a esses estudantes e se isolar em um minúsculo gueto. E tal isolamento não ocorre só a nível da superestrutura do movimento estudantil. Ao longo dessa gestão do CAMMA, os companheiros que constroem a ANEL, influenciados pelos militantes do PSTU, se isolaram em reuniões paralelas e muitas vezes não se esforçaram nem um pouco para levar à frente iniciativas de outros grupos, como ocorreu no caso do Ato Almoção e do lançamento do Núcleo de Apoio às Ocupações.

Chapa 1, alguns acertos e consideráveis omissões
            Já os setores que compõem a Chapa 1, “Agora Só Falta Você”, apresentaram alguns acertos importantíssimos em suas propostas, como a preocupação com os estudantes do noturno, exigindo o funcionamento dos serviços do IFCS até que este feche e, principalmente, a perspectiva de construção de um movimento estudantil que extrapole os muros da universidade e o questionamento da situação dos trabalhadores terceirizados, exigindo o fim das terceirizações e melhores condições de trabalho.
            Entretanto, algumas omissões ocorreram. Essa chapa, construída por setores que reivindicam a UNE (o movimento Nós Não Vamos Pagar Nada), nada falou ou debateu sobre essa entidade, em um momento em que devemos não só combater sua direção majoritária, como também o projeto diversionista apresentado pela Chapa 2. Enquanto não trouxermos à tona esse debate, viveremos uma polarização ridícula de “qual entidade é a melhor”, que não coloca em cheque o mais importante: como disputar a consciência dos estudantes hoje sob influência dos projetos precarizantes do governo. Além disso, a questão da aliança operário-estudantil não recebeu o foco que achamos necessário. Não se defendeu, por exemplo, que os funcionários possam utilizar os serviços da universidade, como o bandejão pelo qual tanto lutamos. Não se defendeu também que os funcionários terceirizados sejam integrados ao corpo de funcionários efetivos da universidade, sem concurso público e desfrutando de iguais direitos, o que melhoraria drasticamente sua situação.
            Apesar desses erros, encaramos que esta chapa está no caminho certo, levantando as questões centrais, mesmo que não dando a elas as respostas mais corretas. Além disso, os setores que a constroem tem o enorme mérito de terem reerguido o CAMMA, cujas reuniões têm estado consideravelmente mais cheias e já tem sido capaz de tocar algumas atividades de peso (enquanto que a gestão de 2009, encabeçada pelos militantes do PSTU, foi extremamente esvaziada e desmobilizada).
            Por isso, chamamos os estudantes a votarem criticamente nessa chapa, por apoiarem a perspectiva de um movimento estudantil aliado aos trabalhadores e se esforçarem por manter o CA cheio e mobilizado contra os ataques da reitoria e do Departamento, como a proposta de separação do bacharelado da licenciatura e a proposta oculta por trás da criação do IH, de transferir nosso curso para o Fundão e integrá-lo ao projeto do REUNI, de “bacharelados interdisciplinares” que serão o verdadeiro escolão do 3º grau.

            Ao chamarmos os estudantes a votarem criticamente queremos demonstrar que reconhecemos os pontos avançados de tal chapa, porém vemos necessidade de ir além. Assim, para além das eleições, nós do Movimento Hora de Lutar nos comprometemos em levar à frente uma série de propostas que não foram devidamente contempladas por nenhuma das chapas inscritas. Esperamos contatar com você para tornar tais propostas realidade!

Por uma educação universal e gratuita, lutar:
- Pela construção de um bandejão no centro, aberto da manhã até a noite e servindo de graça estudantes e funcionários, principalmente os terceirizados;
- Por uma xérox custeada pela universidade, com a imediata integração dos trabalhadores super-explroados ao quadro de funcionários da UFRJ, com iguais direitos;
- Pelo Passe Livre universitário e redução das passagens de ônibus;
- Pela construção de um Alojamento no Centro que atenda gratuitamente estudantes e terceirizados;
- Pelo fim do vestibular e ampliação da rede de ensino, com a estatização das universidades privadas e construção de novas públicas.

Por uma educação de qualidade, lutar:
- Pela reforma estrutural do IFCS, com a construção de novas salas nos espaços abandonados;
- Contra a separação entre bacharelado e licenciatura;
- Por uma reforma curricular om ampla participação dos estudantes e trabalhadores;
- Por um IH no Centro e com Congregação que possua igual número de professores, funcionários e estudantes.

Por um movimento estudantil que vá além dos muros da universidade, lutar:
- Pela aliança com os sindicatos da UFRJ contra os ataques do governo da reitoria;
- Pela integração imediata, sem concurso e com iguais direitos, dos funcionários terceirizados aos quadros efetivos da UFRJ;
- Contra a precarização da mão de obra negra e feminina, pelo fim das terceirizações;
- Pela integração ao Núcleo do IFCS de Apoio às Ocupações Urbanas;
- Pela reunificação do movimento estudantil em uma só entidade, radicalmente democrática.

A hora é de lutar, companheiros!