sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tese do Hora de Lutar ao 13º CONEB da UNE


          Você tem em mãos a tese do Movimento Hora de Lutar ao 13º Congresso de Entidades de Base da UNE. Como você verá através dos pontos a seguir, nossas principais linhas guia são a combatividade e a aliança com a classe trabalhadora, em prol de uma educação universal, gratuita e de qualidade.
          Atualmente nosso grupo encontra-se concentrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), porém buscamos sempre manter contato com outras organizações e companheiros, buscando crescer através da luta por uma sociedade radicalmente melhor.

          Se você se identificar com nossas propostas, entre em contato através da lista de discussão online e vamos trocar uma ideia!
horadelutarufrj@googlegroups.com


I) O Governo do PT e a educação: balanço e perspectivas
Em 2002 Lula foi eleito Presidente por uma coligação de partidos encabeçada pelo PT e que congregava os maiores empresários e latifundiários do país. Hoje, 8 anos depois, Lula deixou a presidência beirando os 90% de aprovação popular. O que esse governo baseado na aliança entre setores dos movimentos sociais e o grande capital fez de tão importante para conseguir tamanha aprovação das massas, e ainda garantir uma sucessora para mais quatro anos de governo?
Durante os oito anos de Lula a burguesia do setor industrial do país pôde se consolidar, a burguesia do setor financeiro bateu recordes de lucros, as reformas e terceirizações que atacaram diretamente os direitos trabalhistas e que FHC tanto lutou para aprovar tiveram grandes avanços, e tudo isso com a conivência das lideranças de entidades como a CUT, o MST e... a UNE. E, embora tenham sidos atacados de forma “disfarçada” por esse governo de conciliação de classes, os trabalhadores e a juventude ganharam algumas concessões de Lula, coisa que FHC nunca fez.
Entre essas concessões estão o Bolsa Família, o Minha casa minha vida, o PROUNI, o PROEJA, as cotas em universidades públicas e etc. Comparadas às reais possibilidades de nossa economia, entretanto, essas concessões não passam de migalhas. Todos esses “projetos sociais” visaram iludir os trabalhadores, incluindo aí setores importantes da juventude. O governo do “Brasil país de todos” difundiu na mente de milhões de trabalhadores e trabalhadoras a ilusão do crescimento das “oportunidades”, do fim da pobreza e da queda recorde do desemprego. Porém, os subempregos e os empregos sem qualquer qualificação técnica (os que mais exploram o trabalhador) são hoje renda desses 35milhões que saíram da linha de pobreza durante esses oito anos.
 A grande maioria desses trabalhadores são jovens, de 18 a 25 anos, que vieram de famílias miseráveis da periferia das grandes cidades e de regiões rurais. Esses trabalhadores jovens vão para o mercado de trabalho sem qualquer qualificação profissional, muitos sem ter completado o ensino médio, e a única coisa que conseguem são empregos no setor de serviços ou varejo, sendo super-explorados e sem ter qualquer chance de prosseguir estudando e conseguir um emprego melhor.
No que diz respeito à educação especificamente, o governo Lula jogou o potencial dos jovens trabalhadores no lixo durante esses oito anos. Os projetos como o REUNI e o PROEJA proporcionaram uma “expansão” de ensino técnico e universitário para atender uma boa parte dos jovens trabalhadores que precisam se profissionalizar, porém fez isso rebaixando a qualidade do ensino público técnico e universitário para atender a uma lógica de mercado com trabalhadores menos qualificados e mais baratos. Para piorar, combinado a isso, o governo ainda pagou milhões para os barões do ensino privado, através do PORUNI, para que concedessem bolsas em suas universidades e para expandirem seus negócios altamente lucrativos, enquanto poderia ter usado esse dinheiro para abrir nada menos que o triplo de vagas no ensino público.
Através das concessões citadas, nesses oito anos os trabalhadores conseguiram respirar e tomar fôlego ao fim da era FHC. Porém na era Lula foram enganados pelos lideres sindicais vendidos e pela mentira de que as migalhas jogas da mesa constituíam um avanço histórico. Ao mesmo tempo, a cada ano que passou esse governo foi mais a direita e avançou mais nas “reformas” que na verdade não passaram de ataques e revisão de direitos mascarados por ganhos e bônus (entre elas, a que representou o maior ataque aos trabalhadores, a da Previdência).

O que podemos esperar de Dilma?
Dilma foi eleita sucessora desse governo de conciliação de classes, no qual o grande capital foi quem saiu realmente beneficiado. Para que o PT conseguisse tal façanha, precisou fazer graves concessões e rebaixar o programa político já rebaixado para o fundo do poço. A Frente Popular (como chamamos esse tipo de governo de conciliação) encabeçada pelo PT cedeu até mesmo ao fundamentalismo religioso e ao que a havia de pior e mais reacionário e atrasado na campanha do PSDB de Serra. Dilma prometeu combater o MST e qualquer movimento que vá contra o “santo direito” da propriedade privada. Ela foi capaz de mudar sua posição em relação à descriminalização do aborto no meio da campanha eleitoral por pressão dos evangélicos e da Igreja Católica que apoiavam as candidaturas de Serra e Marina. Em sua posse, Dilma prometeu “lutar pelas reformas necessárias” ao desenvolvimento do Brasil, ou seja, mais revisões de direitos trabalhistas e previdenciários.
Está claro que nos próximos quatro anos de Dilma, a Frente Popular vão dar um giro a direita, não só em questões econômicas e nos projetos sociais do governo, mas estaremos diante de uma maior intransigência e maior combate aos movimentos sociais por parte do governo e da burguesia nacional. A classe trabalhadora precisará estar preparada para responder esses ataques à altura. Mas para isso, será necessário rearticular o movimento de massas e lutar para que suas entidades retomem o caminho da combatividade, rompendo de vez com essa lua de mel entre burocratas vendidos e o governo dos patrões.

- Abaixo a conciliação com o governo do PT e dos empresários! Por uma oposição dos trabalhadores e da juventude!
- Contra a precarização do ensino superior! Abaixo a expansão sucateadora do REUNI!
- Por uma expansão do ensino com qualidade: mais professores, cursos integrais e estatização sem indenização das universidades privadas!

II) O Movimento Estudantil e a UNE
          A União Nacional dos Estudantes é a maior organização estudantil do Brasil e da América Latina. Seu nome está gravado na história de nosso país, graças à combatividade de milhares de estudantes que saíram às ruas em diversos momentos para combater a injustiça de uma sociedade desigual, formada em sua maioria por trabalhadores, mas governada por patrões e seus representantes.
          Entretanto, já fazem anos que o nome da nossa entidade não estampa manchetes que não sejam “UNE recebe X milhões do Governo Federal” ou que suas bandeiras colorem atos e manifestações de peso. No último grande ascenso do movimento estudantil universitário, que foi a onda de ocupações de reitorias em 2007, a direção majoritária da UNE estava do lado dos governos e reitores, e a extinta Frente de Oposição de Esquerda (FOE) não fez questão de estender bandeiras da entidade nas reitorias ocupadas.
          O interessante é que tudo isso está de alguma forma ligado. A direção da UNE é composta principalmente pela União da Juventude Socialista (UJS), que nela se encontra desde sua refundação no final dos anos 1970. A UJS é ligada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e este, por sua vez, é um dos principais aliados do PT e seu governo de aliança com banqueiros e empresários. Assim, desde que Lula chegou ao poder em 2003, a UNE vem sofrendo de uma paralisia sem tamanho: de uma histórica entidade de luta, virou chapa-branca e braço do governo dentro do Movimento Estudantil. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, nas últimas eleições para prefeito do Rio de Janeiro (2008), a UJS utilizou a entidade para apoiar o candidato de Lula, Eduardo Paes (PMDB), o mesmo que tem despejado milhares de sem-teto, perseguido camelôs e atacado moradores de favelas, pondo abaixo suas casas para favorecer a especulação imobiliária e o setor turístico.
          A essa situação surgiram duas alternativas: a formação da FOE, integrada por setores das mais diversas correntes do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e de outros partidos e organizações menores (como o PCR – Partido Comunista Revolucionário); e a ruptura com a UNE, encabeçada pelo extinto Rompendo Amarras, coletivo organizado pelo PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado).
          Achamos um erro sem tamanho o dos companheiros que seguiram o Rompendo Amarras/PSTU e declararam a UNE inimiga dos estudantes. Esses companheiros estão até hoje se lançando em tentativas fracassadas de construir novas “alternativas de luta”, que no final viram meros aparatos para divulgar a imagem desse partido (em 2005 foi assim com a extinta CONLUTE e agora assim está sendo com a ANEL). Se a UNE possui problemas, devemos tentar resolvê-los, e não dividir o movimento em uma ridícula luta por aparatos, enfraquecendo assim nossa resistência aos ataques do governo e dos poderosos.
          Por outro lado, aqueles que resolveram ficar na UNE e combater sua direção burocrática e chapa-branca, que apoia os projetos do governo e dos reitores de precarização da universidade pública e favorecimento das privadas, se uniram no bloco sem princípios que é a FOE. Sem princípios porque a FOE nunca possuiu um programa no qual se baseasse a aliança dos setores que a compõem, estando mais para uma forma das suas diversas correntes conseguirem mais crachás na hora das votações. Tanto é assim, que a FOE nunca votou um calendário de lutas ou convocou encontros nacionais para armar os estudantes contra a UJS e permitir a retomada da UNE através da mobilização de suas bases. Não à toa, essa massa amorfa de correntes foi dissolvida no último CONEG (2010), ficando em aberto a importante tarefa de se criar na UNE um campo de oposição à sua direção majoritária.
          Quanto a essa tarefa, achamos que o fundamental é se discutir programa e método. Para nós do Movimento Hora de Lutar, o programa de um campo de oposição de esquerda, capaz de retomar a UNE para a luta e pintar de vermelho suas bandeiras brancas deve ter como alicerce principal a aliança com os trabalhadores, o que desenvolveremos no tópico a seguir (III).
          Já quanto ao método, para nós o fundamental é a retomada da democracia na entidade a partir de suas bases, no que esse CONEB pode cumprir um importante papel. Como forma de evitar a oposição, a UJS e seus aliados há anos tem garantido que quase não se realizem eventos da UNE e que, quando estes sejam convocados, que não se tenha o devido espaço para a discussão política: substitui-se os importantes espaço dos Grupos de Discussão e de Trabalho (GDs e GTs) por festas, palanques para políticos do governo e despolitizadas apresentações de painéis. As atividades culturais devem sim ter espaço em nossa entidade, porém não devem ser usadas como instrumento para suprimir a discussão política e transformar nossos encontros e congressos em verdadeiras micaretas.
          Devemos lutar para construir espaços em nossas universidades, cidades e municípios, para reconstruir a UNE através da mobilização das bases, que muitas vezes só conhecem a entidade através dos livros de História. Uma vez existindo esses espaços de base, devemos convocar um encontro nacional que aprove um programa comum, combativo e classista, capaz de impulsionar nossa luta nos fóruns nacionais por uma UNE sem rabo-preso com governos e reitorias, e capaz de cumprir seu papel na luta por um projeto de sociedade radicalmente transformador.

- Pela democracia dentro da UNE! Por uma oposição que venha da (re)organização da base!

III) Um programa combativo e classista para a juventude
            A grande maioria da juventude brasileira vive, nos dias de hoje, um dos momentos mais difíceis de sua história. Se perguntarmos para estudantes do ensino médio de qualquer tipo de escola (particulares, federais públicas, municipais, etc.) se eles gostariam de ir para a faculdade quando acabassem o segundo grau, na certa 9 em cada 10 responderiam que sim.
            Mas, quando vamos ver a quantidade de jovens que de fato entram na faculdade, este número não passa de 3 em cada 10. Sendo que dentre eles, mais de 80% estão em faculdades particulares. E, se olharmos melhor, veremos que menos de 10% dos jovens têm acesso à universidade pública.
            Esses números, somados aos índices de evasão na universidade com o passar dos períodos, dão a conclusão que menos da metade das pessoas que entram na faculdade conseguem se formar. Se formos olhar mais de perto ainda, cada indivíduo desses grupos que vão tendo sua possibilidade de cursar uma faculdade ceifada, veremos que praticamente todos tem algo em comum: foram obrigados a largar a faculdade devido ao alto custo de manutenção dos estudos, e pela dificuldade de conciliar trabalho com estudo para aqueles que ainda têm a sorte de conseguir uma vaga no mercado de trabalho e ganhar o suficiente para conseguir se manter.
            Isso inclui desde do aluno do ensino médio que não tem quaisquer expectativa de entrar na faculdade, pois já é obrigado a trabalhar desde cedo para ajudar sua família a sobreviver; como também outros tantos que não conseguem passar pelo funil elitista que é o vestibular, pois não têm dinheiro para pagar um cursinho, e muitos outros que começam a trabalhar para tentar pagar uma faculdade particular.
            De qualquer forma, vemos que a juventude está sendo cada vez mais cedo, forçada a entrar no mercado de trabalho, e que isso vem cada vez mais dificultando o acesso de jovens pobres à faculdade. E não poderia ser de outra forma. O trabalhador é sobrecarregado com jornadas de trabalho exaustivas, dificuldade de acesso ao local de trabalho, hora extra, salário ínfimo, etc. Como pode se esperar que um sujeito desse ainda arranje tempo para estudar? A resposta é simples: não se pode esperar esse tipo de coisa.
            O estudante universitário é uma pessoa que precisa de tempo para se dedicar aos estudos, para ter uma formação digna, para desenvolver um pensamento crítico que possibilite a mudança das contradições dessa sociedade em que vivemos. Mais do que tempo, precisa também de meios para pagar os altos custos que envolvem o ensino.
            Não podemos nos contentar em exigir medidas pequeno burguesas dentro da universidade. Não podemos acreditar que o meio-passe universitário, ou um bandejão a 2 reais, ou a implementação de cotas, vai mudar a realidade da juventude trabalhadora na universidade brasileira, e muito menos que somente essas medidas vão por fim ao caráter elitista da universidade.
            Temos que ir além disso. Temos que lutar por um programa de assistência estudantil decente, que possibilite a formação do jovem na faculdade, incluindo aí a juventude pobre e de maioria negra. Temos que lutar pelo fim do vestibular, que transforma a universidade numa instituição elitista para uma minoria branca e rica, através da estatização das universidades privadas. E o mais importante, temos que promover essas lutas em aliança com os trabalhadores, que são quem de fato percebe e mais sente as injustiças e contradições da sociedade em que vivemos.
            Temos que deixar claro que a universidade nunca será realmente pública, que a formação de jovens nunca terá um propósito social, enquanto as mãos que a gerirem forem a do Estado. Estado este que só governa para os empresários e banqueiros, que no primeiro momento de crise corta verba da educação para repassar para empresas e bancos falidos.
            Temos que dizer também, que mesmo que conquistemos o meio-passe ou até o passe livre universitário, não haverá mudança significativa na sociedade, enquanto o principal objetivo das empresas de transporte for dar lucro para os seus donos. Que quase não fará diferença ter um bandejão a 2 reais, ou até mesmo gratuito, enquanto a comida continuar sendo servida pelas mãos de funcionários terceirizados (que quase não possuem direitos trabalhistas e recebem salários de fome, correndo risco de demissão imediata se levantarem a voz contra essa situação).

- Cotas não bastam, pela verdadeira democratização do ensino, lutar pelo fim do vestibular e estatização das privadas!
- Para combater a evasão, garantir o custeamento do ensino: lutar pelo passe livre universitário, por bandejões e xérox gratuitas! Tudo custeado pela taxação do lucro das empresas e bancos!
- Pela defesa de um programa classista dentro do movimento estudantil! Para ir além das barreiras pequeno-burguesas da universidade, se aliar aos trabalhadores!

IV) A questão das opressões específicas
          Problemas como o machismo, o racismo e a homofobia não são muito comuns na universidade e na sociedade em geral. Porém, não são simplesmente manifestações irracionais de ódio que existem em nossa sociedade de “uma pessoa contra outra”. Na verdade, eles servem a um papel e são mantidos materialmente por um grupo em especial – a burguesia, auxiliada pelo Estado. Isso não é nenhuma teoria da conspiração, pelo contrário, é afirmar uma coisa óbvia: essas formas de discriminação são a ação de uma classe contra outra. Muitos trabalhadores, é verdade, são reacionários e discriminam outros por serem homossexuais, oprimem mulheres, etc. Mas ao fazerem isso, acreditamos que eles estão reproduzindo os interesses da burguesia. Por que?
          Não é obra do acaso que milhões de jovens, de esmagadora maioria negra, vivem em favelas que foram, ao longo de décadas, mantidas em condições precárias de moradia e educação. A juventude que mora em favelas, exatamente por isso, é geralmente empurrada para os setores mais mal pagos e sem qualificação  do mercado capitalista. Isso é uma situação mantida de propósito pelos governos porque o capitalismo precisa que grande parte da classe trabalhadora seja mantida sem qualificação para poder pagar salários menores, mantê-los empregos sem direitos (como são os trabalhos terceirizados) e para constituir uma massa de desempregados, sem a qual não existe o capitalismo (os patrões precisam ter os trabalhadores à disposição no mercado para comprarem a sua força de trabalho e a “competição” empurra os salários para baixo). As condições históricas dos negros no Brasil após a escravidão deram a oportunidade perfeita para que o capitalismo brasileiro encontrasse nos trabalhadores negros esse setor. Obviamente essa discriminação histórica não pôde ser mantida sem um cerco de repressão constante e a polícia cumpre esse papel ao reprimir duramente os negros. Para qualquer um que já foi parado numa batida policial isso fica óbvio – ver como são tratados e como são mais parados os negros, mas, só para citar um dado – de acordo com o PNUD, a polícia do Rio de Janeiro mata DUAS VEZES MAIS negros do que pessoas de outras etnias.
          As mulheres foram historicamente presas ao trabalho doméstico, inclusive por questões biológicas. Mas hoje, com o nível de sofisticação de nossa sociedade, não há nenhuma desculpa que explique ser natural que muitas mulheres, por terem que cuidar dos filhos e fazerem serviços domésticos, não possam ter um emprego fixo, não possam fazer uma faculdade, ou mesmo que façam a famosa jornada dupla (trabalhar e cuidar da casa), o que prejudica sua saúde, trabalho e estudos. Na verdade isso só continua existindo porque o capitalismo toma medidas para que parte das mulheres permaneça de fora das universidades e empregos. Em grande parte das empresas, as mulheres são sempre as primeiras a serem mandadas embora quando há demissões; em muitas outras recebem salários menores que os dos homens; e ainda mais importante, não há estrutura em faculdades e empresas que dê para a mulher a segurança básica para os filhos – não há creches gratuitas! A continuação dessa situação beneficia em muito os patrões, porque ao terem mulheres fazendo o trabalho doméstico e cuidando dos filhos, eles tem um custo a menos para pagar aos trabalhadores. Em outras palavras, o salário é aquilo pago para garantir simplesmente a sobrevivência dos trabalhadores. Se não é preciso que eles paguem lavanderias, restaurantes e creches, o valor do salário pode ser muito reduzido e isso aumenta o lucro dos patrões. É como se as mulheres fizessem um trabalho de graça para os patrões (o salário é usado para comprar comida, remédios, cigarros, jornais, mas não precisa-se de dinheiro para os serviços domésticos).
          Fica claro com isso que a manutenção de uma “família modelo” é algo que os capitalistas precisam manter e algo defendido pelos setores mais conservadores da sociedade. Os homossexuais não são um setor diretamente super-explorado, como ocorre com mulheres e negros. Mas os patrões tem o interesse ideológico em discriminá-los. Só assim é possível manter a estabilidade da “família modelo”, onde a mulher sofre opressão. Se hoje a questão da homofobia se tornou um pouco banalizada (por exemplo, o que viraram as paradas gays por todo o Brasil) isso é resultado de uma ilusão criada  pela imprensa e pelos governos de que os homossexuais tem acesso a tudo e são tratados normalmente no Brasil. Os ataques recentes a homossexuais na Avenida Paulista e o martírio que é para um casal homossexual ter coisas básicas, como adotar um filho ou o casamento civil (que permanece proibido), mostra que a situação dos trabalhadores homossexuais é bem diferente daquela dos homossexuais da burguesia, mostrada nas novelas.
          Essas opressões, por estarem intimamente ligadas às necessidades dos capitalistas e do capitalismo, deixam suas marcas no trabalho. Um estudo citado na Folha explicita essa divisão no mundo do trabalho:“Pesquisa divulgada hoje pela Fundação Seade mostra que, na mesma função, homens negros (R$ 639) e mulheres (R$ 652) recebem salários até 47,8% inferiores aos pagos para trabalhadores brancos do sexo masculino (R$ 1.236)”. Achamos que os lutadores no movimento operário e da juventude não podem se limitar a combater o racismo e o machismo apenas como um caso de discriminação de “pessoa contra pessoa”, pois isso é dar um tiro no escuro. Por serem um ataque de classe contra classe, as opressões devem ser combatidas pelo conjunto da classe trabalhadora contra a classe que as mantém – os patrões. Por isso achamos que o combate às opressões deve ser prioridade em todas as greves, atos de rua e piquetes. O movimento estudantil e da juventude, que não pode se afastar das necessidades dos trabalhadores, também deve incluir em sua pauta diária essas bandeiras. Junto com uma luta por mais verbas ou vagas, por melhores condições físicas nas universidades, meio-passe ou pelo fim do vestibular, devemos levantar iguais direitos e salários para os trabalhadores e trabalhadoras desses setores oprimidos.

- Pela formação de comitês de estudantes e trabalhadores para lutar por todos os meios necessários para combater ataques racistas e homofóbicos!
- Pela construção de creches gratuitas em todos os locais de trabalho e faculdades para valorizar e garantir o trabalho e a educação da mulher!
- Pela extensão da licença maternidade para 1 ano com estabilidade e igual salário e direitos para todas as trabalhadoras!
- Pela efetivação dos terceirizados nas empresas onde trabalham (como nas universidades) com igualdade de direitos!
- Por plenos direitos civis para casais homossexuais!
- Trabalho igual para salário igual – nivelar pelo salário mais alto até não haver diferença salarial entre trabalhadores num mesmo cargo, independente de sexo, etnia, opção sexual ou religiosa!


V) O Coletivo Lenin e a luta por um Partido Revolucionário

          O Movimento Hora de Lutar foi fundado por militantes de uma organização política chamada Coletivo Lenin. O movimento não se limita aos companheiros dessa organização, sendo também integrado por ativistas independentes. Porém, dedicamos esse espaço da tese para discutir uma questão fundamental: a necessidade de irmos além do movimento estudantil e dos muros das universidades e defendermos um projeto de sociedade.
          Entendemos que a sociedade capitalista na qual vivemos é uma sociedade de classes, o que significa que uma minoria, por possuir os meios de produção (como as fábricas, os bancos, as empresas, etc.), vive da exploração de uma esmagadora maioria, a classe trabalhadora, lucrando com seu sangue e suor. Como já foi dito anteriormente, os problemas que enfrentamos na educação não podem ser vistos de forma separada dessa questão, pois se há cortes, privatizações e sucateamento, é porque há interesse em se destruir a educação pública e favorecer as empresas privadas que transformam educação em mercadoria. Por isso dizemos que é fundamental se aliar à classe trabalhadora e defender um projeto voltado para a transformação radical da sociedade, pois apenas quando os trabalhadores é que estiverem no poder é que poderemos ter nossas riquezas voltadas para o bem-estar de todos, e não para o bolso dos patrões.
          Porém, eleger um presidente ou parlamentares não é a saída, como demonstrou os oito anos de governo Lula e, mais drasticamente, experiências como a de Salvador Allende, no Chile, de construir um “socialismo pela via institucional”. Algo assim, ou acabará em conciliação com as classes dominantes, ou em uma derrota brutal dos trabalhadores, pois o núcleo do Estado capitalistas são as Forças Armadas, que devido à sua estrutura hierárquica está sempre sob o controle dos patrões.
          O projeto que defendemos, o socialismo, deve ser alcançado através de uma revolução, que crie e consolide meios alternativos, e verdadeiramente democráticos, de poder, como os famosos soviets russos, conselhos de trabalhadores, camponeses e soldados que, através da eleição de delegados (que não ganhavam mais que um operário e podiam se destituídos a qualquer momento caso a base assim decidisse) permitiram ao proletariado edificar o primeiro Estado Operário da História, a União Soviética.
          Uma revolução, entretanto, não ocorre sem um trabalho gigantesco de disputa da consciência dos trabalhadores, pois estes estão constantemente sobre a influência alienadora dos grandes meios de comunicação da burguesia, sentem-se inseguros para se mobilizar e etc. Para isso serve o Partido Revolucionário, para travar uma batalha titânica contra as ideologias burguesas e conquistar os trabalhadores para o projeto revolucionário, através de muita propaganda e das experiências de greves, enfrentamentos e manifestações.
          E é aí que entra o Coletivo Lenin. Tal organização nasceu da compreensão de que nenhum dos partidos atuais defende o programa necessário para levar os trabalhadores à verdadeira vitória. Um programa que coloque na ordem do dia a defesa dos Estados Operários ainda existentes (Cuba, Vietnã, Coréia do Norte e China), contra as ameaças do imperialismo e da burocracia usurpadora que detém o poder nesses países; que coloque na ordem do dia a integração de todas as lutas com aquelas dos trabalhadores, sem o sectarismo de se criar “movimento feministas”, “movimentos negros” e etc., que por se aliarem a setores da classe dominante jamais resolverão de fato os problemas que combatem; um programa que coloque na ordem do dia a discussão sobre a necessidade do socialismo e que se negue a estabelecer alianças com a classe dominante, seja de forma descarada, como o PT faz, seja de forma velada, como setores do PSOL fazem ao aceitarem financiamento de empresas para seus candidatos.
          A maior tarefa do Coletivo Lenin, portanto, é, através da luta no movimento estudantil, popular e operário, consolidar as bases para a fundação de um Partido Revolucionário, a partir do recrutamento e da formação de uma vanguarda realmente comunista e revolucionária.


          Para conhecer melhor o Coletivo Lenin e conferir materiais do Movimento Hora de Lutar, acesse:

www.coletivolenin.org
http://coletivolenin.blogspot.com/

Ou envie um e-mail para: c.lenin@coletivolenin.org